quarta-feira, 25 de maio de 2016

Conversando com os sentimentos...



Estava olhando para a minha vida. Muito tempo já havia passado e nada havia acontecido. Decidir sair pelas ruas em busca de alguém. Quem sabe eu poderia encontrar o que tanto esperava...
Antes de cruzar a rua, dei de cara com uma mulher toda descabelada. Ela estava tão apressada, que acabou tropeçando em mim. 
_Quem é você e para onde vai com tanta pressa? – Perguntei. 
_Sou a Impaciência, e estou indo resolver a minha vida, por que detesto esperar pelo amanhã. Quer vir junto? É só seguir o atalho. Ele é rápido e fácil.
Cogitei por um instante. Um atalho rápido e fácil! Seu convite parecia tão vantajoso que não pude recuar. Mas como ela andava muito rápida, fui ficando para trás.
Logo adiante, deparei com minha melhor amiga, a Ansiedade. Sempre tão ansiosa, ela me impulsionou a continuar pelo atalho, mesmo que a cada esquina ficasse mais escuro. De repente, quando estava quase desistindo daquele caminho confuso, dei de cara com uma luz forte. Era um carro. Não um carro qualquer. Um carro elegante e brilhoso. Dentro dele havia um casal. Um homem charmoso com um smoking e uma mulher cheia de jóias e maquiagem. Era a Senhora Fantasia e Seu marido Expectativa.
Assim que ele estacionou, um moço alto, forte e elegante desceu do carro. Era lindo! Seus olhos eram azuis e seu sorriso parecia refletir o céu. Assim que ele se aproximou, pude sentir minhas mãos tremerem. Ele se apresentou com um cavalheirismo incrível. Beijou minha mão e me entregou flores. Seu nome era Ilusão, e suas propostas eram irrecusáveis. Ir com ele, naquele belo carro, no maior conforto possível, para um lugar que eu realmente encontraria a felicidade? Não pude recusar. Sobre o olhar do Senhor Expectativa e com o sorriso da Senhora Fantasia acompanhada pelo Charme do Ilusão, entrei no carro. 
Depois de algumas horas, onde tudo pareceu perfeito, paramos em um acostamento. Dona Fantasia desceu do carro para comprar um pouco mais de glamour. Eu estava tão empolgada com o Ilusão, que não percebi quando um menino se aproximou da janela do carro e puxou minha mão.
Ele era pequeno e magro. Seu olhar demonstrava que estava assustado e suas mãos tremiam.
_Quem é você? – Perguntei sem entender por que ele apertava minha mão.
_Eu sou o Medo. Para onde você está indo?
_Para a casa da Felicidade. – Disse com um sorriso.
_Você tem certeza que este é o caminho certo?
_Bem, é o caminho mais fácil.
_Nem sempre o caminho mais fácil é o certo. – Ele disse, e de repente senti um calafrio. Olhei para o lado e vi que o Sr. Expectativa, agora, era um velho sujo e mal arrumado. O belo carro, agora, era uma carroça. Aquele moço lindo, o ilusão, havia desaparecido. Eu estava sozinha, no escuro, sendo observada pelo medo. Comecei a chorar. 
_Chorar faz bem. – Uma menina morena, magra e com roupas rasgadas disse. 
_Quem é você? – Perguntei enquanto o medo me abraçava.
_Sou a tristeza, irmã do medo. Vou ficar aqui com você. Quando chego à vida de alguém, é difícil me mandar embora.
Ela parecia tão acolhedora, que permitir que ficasse. Mas havia algo sobre a tristeza a qual eu precisava mandá-la embora. Conforme os dias passavam, ela crescia em uma velocidade assustadora. Mais algum tempo com ela, e eu seria esmagada. Uma boa parte de mim já tinha se acabado diante do seu peso. Mas como eu poderia ir embora dali se o medo não me largava?
Só havia uma coisa que eu poderia fazer: orar. E assim fiz. Não sei por quanto tempo estive orando e pedindo socorro para Deus, mas quando dei por mim, alguém gritava meu nome fazia horas.
Levantei e me aproximei. Era um casal de velhinhos. Um belo casal com cabelos de algodão e semblante alegre. A senhora já de idade, carregava um bebê em seus braços.  
_Como isso é possível? – Perguntei ainda confusa. Como uma senhora daquela idade poderia ter tido um bebê?
_Era impossível, mas nós sempre acreditamos. E de repente, no último minuto, a Esperança nasceu. E desde então, ela tem sido a nossa maior fonte de alegria.
Ainda fascinada, perguntei:
_Como vocês se chamam?
_Sou a Paciência, e o meu marido é a Fé. Venha conosco querida, vamos pegar um longo e difícil caminho, mas no final você irá conhecer alguém muito importante.
_A dona Felicidade? – Perguntei.
_Não, alguém muito melhor. Nem sempre a vida é feita de alegrias minha jovem, mas tudo valerá à pena quando você finalmente entender.
_E quanto ao medo? – Perguntei ainda temendo a idéia de deixá-lo.
_Não á espaço para ele. O lugar dele é ao lado da tristeza. Você precisa deixá-lo.
Sem mais perguntas, sentindo o ânimo se aproximar, dei a mão para a Paciência, e carregando a Esperança, caminhei ao lado da Fé.  
Ás vezes queremos nos apressar. Somos ofuscados pela ilusão e imaginamos algo totalmente diferente da nossa realidade. Embora o caminho mais curto pareça melhor, nem sempre é. E depois da ilusão, só sobra dor e tristeza. O caminho longo pode parecer cansativo. Difícil. Mas passando por ele, eu aprendi muita coisa.
Vi o orgulho ferido.
Vi inveja tentando pular barrancos.
Vi o desejo se oferecendo em meio ao veneno.
Vi a impaciência tentando me jogar no seu abismo.
Mas eu estava com a Paciência, a Esperança e Fé. E quando se têm esses três, tudo fica mais fácil. Assim, quando faltava pouco, conheci uma jovem alegre e encantadora. Era a Paixão. Toda feliz ela me deu a mão e me mostrou coisas lindas.
Os espinhos não existiam mais. Nem o cansaço. De repente, o mundo parecia melhor. Mais colorido. E quando dei por mim, já estava sorrindo a toa. Por que será que a Paixão tem esse efeito sobre as pessoas? Ela me ensinou a não me importar com as diferenças e nem com os dias ruins.
_Tudo pode ser ótimo, só depende da forma como você vê. Procure sempre ver o lado bom de tudo. Mesmo que ele não exista. – Era o que ela sempre me dizia.
Ouvi seu sábio conselho e abracei a vida do jeito que ela era. Agora, parecia que tudo fazia sentindo. Bem, nem tudo, por que havia um moço com a perna quebrada no meio do caminho.
Algumas pessoas passavam e não lhe davam atenção. O desprezavam. Outros voltavam com pavor. Aproximei-me e perguntei qual era o seu nome. 
_Eu sou o Defeito. Geralmente as pessoas se recusam a me aceitar. – Ele disse tentando disfarçar a dor.
Tive pena dele. E então, guiada pela paixão, eu o peguei no colo e cuidei de sua ferida. Eu o levei comigo, não importando se eu me cansaria ou não.
O tempo passou, e eu ainda cuidava do Defeito. Sempre respeitando sua diferença. Foi então que um moço formoso se aproximou. Ele não era nem moreno e nem loiro. Eu não conseguia ver muito bem a sua face, mas era a pessoa mais linda que eu já tinha visto em toda a minha vida.
_Quem é esse? – Cochichei para a Paixão. 
_Eu não sei o seu nome, mas sei que é o irmão da Humildade e da Sinceridade.
O belo moço se aproximou e me deu a sua mão.
_Deixe-me ajudar a levá-lo? – Ele disse se referindo ao defeito. 
Claro! Diante daquele sorriso suave, não pude recuar. Aceitei sua ajuda e nós dois o pegamos juntos e seguimos. Quando eu tinha sede, ele me oferecia água. Quando ele precisava de ajuda, eu o ajudava. E de repente a Paixão ficou tão alta que saiu voando pelo céu, e o defeito foi junto. Agora, eram apenas eu e ele e as promessas de Deus.
_Como você se chama?Finalmente perguntei ainda segurando sua mão, me sentia incapaz de soltá-lo.
_Sou o Amor.
_Mas por que não me disse antes?
_Por que sou assim:  se você aceita o defeito, e o respeita, então eu apareço. Sempre sem ser notado, de mansinho, sempre á sombra da paixão. Eles demoram a perceber quem sou. E quando finalmente fico forte, eles partem.  
Ainda confusa, fiz uma última pergunta:
_Por que você é diferente? Por que é tão especial?
Com um grande sorriso ele respondeu:
_Eu posso demorar a chegar. Alguns nem conseguem me achar, mas depois que eu chego, eu nunca mais vou embora. E é apenas disso que você precisa. Apenas de mim. Do amor. O resto a gente conquista junto.

Vanessa Souza

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