quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Um história sobre alguém que se perdeu...


Já tem algumas horas que estou sentada aqui, apenas esperando pela minha vez. Ainda não sei qual melodia irei tocar; o que torna tudo ainda mais angustiante. Meus olhos vagueiam por todos os lados do teatro, analisando as milhares de pessoas que vieram aqui nos prestigiar. Hoje é o grande dia, ao qual eu passei anos da minha vida esperando. E a cada minuto que aproxima a minha hora, eu sinto o medo e fraqueza tomarem conta de mim. É inútil estar acontecendo isso: esperar tanto por algo, e quando finalmente o tem; você mal consegue mexer as suas pernas. Droga de nervosismo!
Volto meus olhos para a multidão enquanto não chega minha vez. Pela posição da fila, sei que serei a última, eu não me importo, no entanto, além do mais, é um absurdo eu estar aqui, quando sei que todas as minhas concorrentes são bem melhores do que eu. Mas...
Minha família está aqui, sentada na fileira do meio, alguns bancos atrás de onde estou. Alguns amigos, as mesmas pessoas que sempre vemos... O que não deveria me deixar nervosa. Bem, nem todos me deixam. Mas ele sim, meus olhos o flagram assim que ele entra pela porta do meio, sentando no primeiro banco ao lado esquerdo, bem no rumo dos meus olhos. É claro que ele me pega o observando e aquele sorriso escapa dos seus lábios. Não tem como negar que ele tem o sorriso mais lindo que já vi. Dou um sorriso tímido de volta, assentindo com a cabeça que sei exatamente no que ele está pensando. Temos um segredo. Embora eu saiba que é errado, temos nos encontrado escondido algumas vezes para nos beijarmos. Não é como se tivéssemos sentimentos um pelo outro, acontece que por sermos melhores amigos, acabamos concordando com essa idiotice de compartilharmos prazer, enquanto afogamos nossas solidões entre alguns amasso..., que cá entre nós, são bem quentes. Mas isto é outra história...
         Meus olhos voltam para o piano no palco, apenas esperando a próxima candidata se apresentar. E é nesse ponto, quando me pego o observando, aquele belo instrumento, tão lindo centralizado ao meio, apenas esperando por uma artista para dedilhá-lo, que sei exatamente porque não estou feliz com o meu melhor amigo, ou qualquer outra pessoa que eu tenha tentado sentir algo. Minhas pernas estão trêmulas, minhas mãos suam tanto, que estou molhando a minha roupa de tanto secá-las. Minha boca não consegue pronunciar mais nada, e meu coração parece que vai explodir. É isso que sinto toda vez que estou perto de tocar, ou quando finalmente o faço, penso que vou desmaiar de tanta emoção. Uma mistura boa de todos os sentimentos possíveis. Porque eu amo fazer isso, amo estar aqui, tocando, e é justamente isso que quero sentir quando encontrar alguém, ou quando pelo menos beijá-lo. Quero sentir as mesmas emoções que sinto quando toco.
         Estão anunciando o meu nome, e não posso evitar um sorriso de alma assim que caminho em direção ao piano. Minhas mãos tremem bastante, mas nada se compara aos batimentos cardíacos que estão fora de controle. Não me importaria em ficar por horas e horas aqui, tocando. Sentindo toda essa euforia de sentimentos. Eu quero isso, quero olhar para alguém e sentir.
        Termino minha apresentação com lágrimas nos olhos, não por medo, mas pela certeza que dei o meu melhor. Que toquei muitos corações nesta noite.
Assim que desço do palco, meus olhos o alcançam, ele está me olhando fixo, com um sorriso sobre os lábios, e lágrimas nos olhos, e por um segundo, só por um milésimo de segundo, eu penso que talvez, realmente podemos ser um casal...

CONTINUA...


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